Música para os nossos ouvidos… e os dos filhos

[Errata: No Apple Music, procurar por Christmas Brass.]

Colocamos este álbum para tocar enquanto o Afonso desenhava na sua mesinha. Fazia tempo que ele não desenhava com tanta tranqüilidade, sem se dispersar e sem ficar pedindo a mim que desenhasse alguma coisa para ele a cada 2 minutos.

Apresentar música para os filhos é uma questão quase sempre negligenciada, principalmente quando o filho é muito novo. Aqui em casa, não raro, passamos longos períodos sem colocar nenhum tipo de música para o Afonso ouvir. Mas isso está errado, até porque ele adora – à maneira dele, é claro; sem demonstrá-lo, necessariamente. E aqui está, talvez, o problema: esperamos, como adultos bestas que somos, que a criança reaja ativamente à música que colocamos. Daí porque tendemos a colocar música infantil “animadona”, já que as canções infantis são feitas justamente para provocar reações fortes nas crianças.

A música infantil, no entanto, nem sempre é educativa do ponto de vista estético (há quem diga que nunca o é, mas isto é outra história, a ser tratada em outro post). Embora a criança seja… criança, nem sempre ela o será. Por isso, é preciso introduzi-la no mundo da música adulta. E isso, a exemplo de muitas outras coisas concernentes aos pequeninos, costuma ser tarefa fácil! Aqui, por exemplo, o Afonso gosta de tudo que colocamos. Adora “Love Me Tender” e “You Are Always on My Mind”, do Elvis Presley; “Doop-doo-dee-doop”, da Blossom Dearie; “Passarim”, do Tom Jobim; mas também os concertos para flauta doce do Vivaldi; os quartetos de cordas de Haydn e, agora, essa deliciosa coletânea de música clássica para metais (trompete, trombone, tuba, trompa).

Não deixem de educar seus filhos musicalmente, inclusive evitando o excesso de música infantil depois dos 3 anos de idade. Tem muita coisa boa – e divertida – para ouvir que não é especificamente infantil. Procurem saber. Pretendo dar mais dicas aqui também.

Pílulas de tradução – Série Juca e Chico, de Wilhelm Busch

Os 8 livros que eu mostro no vídeo podem ser encontrados na Estante Virtual e no Mercado Livre. Basta procurar por seus títulos, que listo abaixo. A editora é Itatiaia, mas há outras edições, da Melhoramentos, mais antigas.

Série Juca e Chico:

1 – Juca e Chico
2 – O macaco e o moleque
3 – O fantasma lambão
4 – O corvo
5 – O camundongo
6 – Rico, o Mico
7 – A cartola
8 – O trenó do Joãozinho

Juca e Chico (domínio público):
http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html
e
http://www.elfikurten.com.br/2012/06/as-travessuras-de-juca-e-chico-max-und.html

Juca e Chico (traduzido por Olavo Bilac, com as ilustrações originais, porém alteradas na cor e na diagramação): https://amzn.to/2IxKNpS

Amostras dessa edição: https://revistaemilia.com.br/dois-meninos-em-dois-tempos/

Juca e Chico (nova tradução): https://amzn.to/2K2u3Yx

Uma amostra da nova tradução:

Madeline na telinha

O livro Madeline, indicado pela Luciana Lachance em um de seus programas, é sucesso absoluto aqui em casa. Depois que postei no Instagram um vídeo em que eu o lia para o Afonso, meu filho de dois anos, eis então que me escreve a Stephanita me dizendo que seus filhos assistiram ao DESENHO da Madeline! Grata surpresa. Vai ficar guardado aqui para quando o Afonso começar a ver TV.

Problemas na tradução de Pollyanna, de Eleanor Porter

Comentários sobre a tradução de Pollyanna, de Eleanor Porter, pela Editora Autêntica; e comparação com outras duas traduções, uma de Portugal e outra realizada por Monteiro Lobato.

Meu canal no Instagram: https://www.instagram.com/evandrofs/

Tradução portuguesa impressa: https://amzn.to/3eiaRB6

Tradução portuguesa em e-book: https://amzn.to/360PK2K

Tradução de Monteiro Lobato: https://amzn.to/323aIN4

Tradução da Editora Autêntica: https://amzn.to/34JUrOS

Tradução da Editora Pandorga (resenha em um blog): https://resenhandopormarina.com/pollyanna/

E a vaca disse…

Este é o livro mais estragado aqui de casa. Encontrado por acaso numa livraria de aeroporto quando o Afonso tinha 1 ano de idade, revelou-se um livro-coringa: tem atrativos para todas as idades, desde os botões com sons de bichos até a capa dura pra fazer o toc-toc de quem bate à porta, passando ainda pelas rimas, o enredo cativante e as ilustrações com aqueles detalhes que passam despercebidos num primeiro momento – perfeitos para manter vivo o interesse da criança nas leituras posteriores.

Clique aqui para comprar.

Verdades do Pachá

REPETITA JUVANT

Perguntou-me ontem um jovem amigo como deve ser uma boa tradução:

“Poderia fazer um post falando sobre tradução? Uns dizem que o tradutor é servo do original, outros que é co-autor. Como julgar uma tradução? Aquela que propõe-se fiel ao original ou a criativa?”

Uma boa tradução não deve ser nem literal nem tão “criativa” que se transforme numa paráfrase do original. Traduzir “let bygones be bygones” por “deixe coisas passadas serem coisas passadas” é uma frase gramaticalmente correta mas bem longe está de soar legitimamente portuguesa, como seria “águas passadas não movem moinhos”. O oposto disto seria traduzir a expressão “a vaca foi para o brejo” como “the cow went to the swamp”, que em inglês não faz sentido algum. Sem o domínio da língua materna e um conhecimento aprofundado da língua da qual irá traduzir, sem uma dose eminente de bom senso, em primeiríssimo lugar, de boa formação literária e ao menos de noções elementares de teoria da linguagem e de semântica; enfim, sem um mínimo indispensável de cultura geral (que, conforme sabemos, não se compra na farmácia), não dá nem para retesar ao fogo os tamborins da tradução, quanto mais para botar uma respeitável bateria na rua e tocar do começo ao fim da noite sem jamais atravessar o samba.

Sérgio de Carvalho Pachá

P. S.: Obrigado à Marcela Saint Martin por enviar-me o texto.

Pornglish

Abro a amostra para Kindle de um livro de C. S. Lewis que saiu por uma editora “Vida Melhor”. As primeiras três frases contêm um “você” para traduzir aquela maneira coloquial como os americanos se referem ao interlocutor, em seus livros, dizendo “you”. Acho deveras louvável a enxurrada de livros do C. S. Lewis e do Chesterton com que as editoras conservadoras estão inundando o mercado brasileiro. Quanto à tradução, porém, considero que 90% desse material ainda não foi vertido ao português. Foi vertido a um outro idioma, que poderíamos chamar de neopataquês, trelelê, “pornglish” ou “bereguê” – para homenagear, neste último caso, o saudoso Ruy Goiaba. Já me disseram “eis aí um nicho de mercado que você (opa!) pode explorar”. Só que esse nicho é composto por não mais que umas duas dúzias de pessoas: as que sabem falar português hoje em dia no Brasil


Cemitério maldito

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Assisti a muitos filmes quando era criança e, depois, adolescente – principalmente depois da popularização do videocassete (sim, eu sou velho desse tanto). O primeiro videocassete que meu pai comprou ficava no meu quarto. Eu passava as tardes e as noites vendo filmes e comendo biscoitos ou lanchando. Meus pais, porém, nunca viam filmes comigo e com meus irmãos. Não víamos filmes em família. Até que um dia tentamos fomentar esse hábito chamando meus pais para assistir a este filme. Não lembro quem chamou, se eu ou meu irmão do meio. Só me lembro vagamente de que houve uma espécie de empenho moderado de nossa parte para que meus pais assistissem a este filme conosco, pois tínhamos gostado muito dele e meu pai, se não me falha a memória, tinha-se interessado também, ao ver algumas cenas, de passagem, em alguma das inúmeras vezes em que o víramos.

Pois bem, acontece que se tratou de uma GIGANTESCA ingenuidade de nossa parte. Jovens inocentes que éramos, nem nos passava pela cabeça (apesar de sabermos do fato) que o nosso irmãozinho, o primeiro filho de nossos pais, morrera atropelado por um caminhão, na frente da casa deles. Por um descuido da babá, ele atravessara a rua correndo ao ver minha mãe do lado de lá! Pra piorar, a idade dele quando morreu era exatamente a do menino do filme. Meu pai ficou revoltado ao ver a cena e se retirou do quarto. Minha mãe, de quem hoje admiro a calma que teve na ocasião, nos explicou que nosso irmãozinho tinha morrido daquela maneira e nos disse que era muito triste e traumático para eles assistir àquele filme conosco.

Minha memória pode me estar passando a perna em alguns detalhes, mas o principal foi isso. E hoje, depois de ter-me tornado pai, compreendo a enorme, incomensurável tristeza que meus pais devem ter sentido quando meu irmãozinho morreu daquela maneira tão trágica e os respeito ainda mais por terem superado esse trauma em sua vida – não, obviamente, sem percalços – e ainda terem criado mais três filhos. Tudo o que eu fiz e farei nesta porca vida foi e será completamente insuficiente para agradecer-lhes o que fizeram por mim. Tudo o que qualquer filho faça na vida é nada diante da dedicação de um pai e de uma mãe amorosos. Mas o mais incrível (agora, que sou pai, percebo isso) é que um pai não espera nenhum ato de agradecimento do filho. O simples fato de vê-lo viver já o satisfaz. Acho que a vida é um milagre tão grande que a gratidão que um pai sente por ter botado um filho no mundo já lhe traz toda a felicidade que um ser humano é capaz de sentir e compreender. O que quer que venha a mais está muito, muito além do que merecemos. Curioso fato este, de os seres humanos não se merecerem uns aos outros…