Amontoado de ideias

A pessoa descobre que não gosta de nenhuma das características de sua profissão, mas acha que quem deve mudar é esta e não ela. Tocante.

Mas, deixando o sarcasmo de lado; infelizmente, no Brasil, profissão e vocação geralmente têm de ser coisas diferentes. As pessoas, no entanto, não aguentam admitir isso. Preferem se enganar porque é muito difícil lidar com uma desilusão que, no mundo moderno, afeta quase a totalidade de sua vida. Não está certo uma pessoa extrair da profissão 90% do sentido da vida. Tudo bem que o trabalho é uma das mais importantes esferas da vida humana, mas há vários tipos de trabalho, não só o profissional etc etc.

Esta é uma discussão interminável, que passa inclusive pelo curioso fato (que eu estava discutindo com amigos outro dia) de que o brasileiro geralmente não tem hobby – bem, pelo menos não um que seja digno do nome: cerveja e futebol não valem.

Antes eu dizia que não gostava de trabalhar. Hoje digo que não considero minha profissão como minha vocação. Faltam-me respostas a esse problema, que é um de meus maiores conflitos. Tranquilizo-me, entretanto, ao ver que a maioria das pessoas que o consideram resolvido em sua vida na verdade está se enganando.

Aí então você diz: “Uma pessoa pode passar o resto da vida se enganando e ser feliz assim.” É verdade, mas essa pessoa será feliz como um cão é feliz, não como um ser humano o é (leia esse livrinho de filosofia moral do Eric Weil que está na coluna aí do lado e você entenderá do que falo). Estará tudo bem para ela, mas não está para mim. Ignorance is bliss, mas até quando? Só até você ter um lampejo, por acaso, certo dia, como que num passe de mágica, e acordar do seu sonho de glamour profissional.

Enfim, só sei que a única forma de se livrar do trabalho é aposentando-se o mais rápido possível. Estou trabalhando nesse sentido!